O pai de santo e os seus encantados - A Festa do Divino Espírito Santo
Entrevista com Seu Cravinho
Agosto 2013
João Leal (JL): A festa do Divino aqui vem da casa de Pai Jorge?
Seu Cravinho (SC): É, de lá, totalmente de lá, da casa de Pai Jorge. JL: Aí, na casa de Pai Jorge, foi Dom Luís que pediu a festa. Quer dizer que é uma festa de obrigação? SC: [É uma festa] de obrigação, uma festa que é de simbologia católica, sincretizada no Tambor de Mina com essa entidade que é um gentil, chamado Dom Luís, Rei de França. Tinha se ser um rei, dentro dessa questão de encantaria, pra dominar uma realeza, como um gentil. E ele fez essa festa e era a única festa aqui em São Luís que era de São Luís, Rei de França e do Divino Espírito Santo. Como tem Santana e Divino Espírito Santo, como tem Cosme e Damião e Divino Espírito Santo. Tem essa associação com aquele santo de devoção junto com o Divino e, quando se fala de terreiro, aquela entidade acaba adotando o Divino Espírito Santo, a festa. Ali está sendo o Divino Espírito Santo, mas ele acaba interpelando, como também se fosse uma obrigação dele, enquanto entidade, estar ali presente, fazendo aquela coisa acontecer e sendo reverenciada, ao mesmo tempo. JL: Então aqui na casa é também uma festa de obrigação? SC: É, de obrigação. O que acontece? A mãe de Seu Wender, a finada Nilde, era festeira do Divino. Então, por isso, ela sempre botou os filho dela, como promessa pro Divino Espírito Santo, [porque ela era] devota. E ela também era da entidade chamada António Luís Corre Beirada. Só que, para ela não poder dançar tambor, ela acabava dando os filhos dela em obrigação ao Divino Espírito Santo. E seu Wender, como sendo o mais caçula de todos, ela deu pro Divino Espírito Santo, como obrigação, aos quatro anos de idade. Ele foi mordomo régio, na casa de Jorge, no Bairro da Fé em Deus, onde se louvava São Luís, Rei de França e o Divino Espírito Santo. [Depois do] ano que ele sentou como mordomo régio, ela chegou a falecer o ano seguinte, que era pra ele ser imperador. Então, ele nunca conseguiu sentar no trono como imperador e reinar. E o pai não tinha muito entendimento, acabou também não colocando [ele]. Os anos se passaram, seu Wender foi crescendo e tomou uma proporção de querer estar naquela casa, até mesmo para resgatar a história da mãe dele e também pra poder sair na rua, foi como uma casa de acolhimento. E lá ele foi praticamente criado como o xodó de seu Jorge, com a sua esposa Bidoca, que é madrinha também do lado católico dele. E, com isso, seu Wender começou a ter uma participação na casa e como ele acabou indo assíduo nas sessões, nos toque e tudo e, aí, ele foi se engraçando com a questão religiosa daquela casa. No ano de 1997, na casa de Pai Jorge, na vinda da procissão do Divino Espírito Santo, ele se sentiu mal, muito mal. Chegou como quase num transe e, agoniado, se isolou em um quarto da casa, que esse quarto era de Dom Luís, Rei de França. E lá encontraram ele passando mal e foram informar seu Dom Luís, que estava em cima do finado Jorge no levantamento do mastro. Dom Luís pediu pra um filho de santo da casa que fosse até lá e tocasse uma caixa do Divino Espírito Santo, pra ver se era alguma coisa envolvente com essa questão. Essa pessoa era chamada de seu Antônio, Antônio Raquel, um vodunço antigo da casa, que tem casa aberta. E seu Antônio, chegou lá, tocou e disse pra seu Wender: “Olhe que é sua senhora, você tem essas coisa”. Questão de segundos, Dom Luís vem, em cima de seu Jorge, e manda seu Wender ajoelhar no quarto dele. Pegou um maracá, benzeu ele. Com essa benzida, ele pegou a boca, foi até à narina de seu Wender e assoprou e disse: “Você tem uma conta minha, você me pertence. O seu reinado não é aqui. Você me deve um trono. Assim que você tiver um filho, você vai-me botar como imperador, em minha homenagem, eu Dom Luís, Rei de França”. E assim ficou marcada aquela data. E aí seu Wender começou a ficar mais assíduo na casa, frequentando, aprendendo as coisas, incorporando… Começou todo um processo espiritual. Com essa questão toda, passado tempo, as coisas começaram a aperrear pro lado de seu Wender. Ele tem uma sobrinha chamada Rafaeli e esta sobrinha ele deu pro Divino, como imperatriz de promessa, pra amenizar o lado dele. Porque, naquela época, ele não estava a conseguir emprego, as coisa estavam assim turbulenta, e ele deu essa menina, pra que os caminhos dele fosse aberto, pra começar a ter vitórias, glórias, tudo. Ele já tava com o terreiro aberto e ele não fazia a festa: ele fazia uma salva de caixa pra São Luís, Rei de França e pro Divino. Aí eu, em cima dele, no ano conceptivo da salva chamei a caixeira Luzia, que veio da Casa de Iemanjá com o cuidado de cuidar da festa de Dom Luís. Porque, na época, teve um episódio na Casa de Jorge, [em] que Dom Luís em cima do próprio finado Jorge, passou da cabeça de seu Jorge pra seu Wender, num momento da cerimónia do dia da festa e isso ficou marcado pelas caixeiras que estavam presentes. Dona Luzia é uma devota fervorosa e disse pra ele: “olha, menino, a partir de hoje, eu vou te acompanhar nas tua salva, eu vou fazer o teu Divino Espírito Santo, eu vou estar contigo!” E assim foi. Por três anos de salva, eu, em cima de seu Wender – Cravinho – chamei Dona Luzia e pergunto: “minha comadre, a senhora chama ele, pra gente levantar o mastro e fazer a festa de São Luís, Rei de França, que seu Wender não tem filho homem e eu quero começar a fazer essa festa. Se, um dia, ele tiver um filho, a gente bota ele como imperador.” “Seu Cravinho, eu estou aqui cheia de fé, a gente está aqui pra lhe apoiar!” E assim foi. O ano seguinte, levantámos a festa. Como no dia 25 o auge da festa era na casa de Jorge, a gente botou aqui como se fosse 30 de agosto. Como 30 de agosto calha muitas vezes dia de semana, a gente botou o último domingo de agosto pra fazer essa festa. E, assim, a festa começou a acontecer. Pela devoção, que foi herdada da mãe, e pela própria questão do Dom Luís, encantado, ter pedido a festa. Então, o seu Wender trouxe a festa, nesse contexto. E a festa aconteceu até hoje, tem uns sete anos de festa do Divino. É uma obrigação da casa. Como ele também é de Dom Luís, Rei de França, ficou uma coisa bem compactada com a realidade espiritual dele. É como se ele tivesse retratando aquela festa do pai de santo dele, na casa dele. De uma maneira devota… JL: O Divino está junto com São Luís. Mas quem é que vai à frente? SC: Divino Espírito Santo. Divino Espírito Santo é Deus, Divino Espírito Santo vai à frente. Tanto que, no altar, o Divino fica mais alto que a imagem de São Luís, Rei de França. A de São Luís fica abaixo, pouquinha coisa. O Divino fica mais alto, o Divino é Deus nas alturas. JL: Mas, se pode dizer – estava perguntando isso outro dia, né? – que Dom Luís é devoto de São Luís? SC: É o sincretismo religioso, né? Creio que sim. Porque ele está dentro desse contexto todo. Porque se ele recebe a missa, se ele vem a receber uma cerimónia, é sinal que ele tem alguma devoção por aquela questão, né? E isso, no Tambor de Mina, é muito marcado: as entidades ter devoção a santos católico, que foi uma questão de tradição. Até mesmo pela questão [da escravidão] da época, de muitas, muitas entidades, ter como se fosse uma obrigação de louvar alguns santos, devido à discriminação. À época mesmo, da escravidão religião [africana era] reprimida e eles usavam as imagens e a devoção e ficou uma coisa tradicional, né? O sincretismo religioso aqui é muito forte dentro do Tambor de Mina, é muito forte. JL: Então, temos o Divino, São Luís e a parte católica, né? E tem os toques em homenagem a entidades que se fazem no período da festa? SC: É assim: na casa, o que é que acontece? Quando se abre a tribuna do Divino Espírito Santo, se abre a 3 de Agosto, com o toque para Jariodama. Seu Jariodama é um encantado que aproveita o momento dessa manifestação e tem um toque em homenagem a ele também. Não tem nada a ver com o Divino Espírito Santo. Ele aproveita o ensejo de que foi aberta a tribuna, ao meio-dia, e à noite tem este toque. Não tem nada a ver, mas acaba entrando dentro do contexto da festa, porque tem esses dias todos de festividades. Os devotos estão ali direccionados ao Divino Espírito Santo, então algumas das entidades de seu Wender, como seu Jariodama, Dan, que é uma entidade do Tambor de Mina e o próprio Dom Luís, aproveitam o ensejo desse movimento festivo… Até pela questão do gasto, dos devotos que estão aqui presentes sempre, aglutinados nessa ocasião, facilita mais a comunicação, a mão-de-obra e outro tipo de coisas de devoção, certo? Aí acabam entrando nesse contexto. JL: Então é uma festa muito longa? SC: É uma festa que ela é de longo prazo e acaba se esticando no terreiro, é uma festa de uma grande proporção. Tem Divino Espírito Santo, mas tem o toque de Jariodama, que aproveita o ensejo, tem a abertura do Tambor de Mina de Dan, tem São Bartolomeu, tem Dom Luís, Rei de França, que tem o toque do gentil, após o Divino Espírito Santo, tem o toque pra Rainhas e Princesas e 31 tem a festa de Seu Légua. JL: Antes da festa do Divino, esses toques estavam tinham lugar nessas datas? SC: Tinham lugar nessa data. Só que não tinha Divino. Então como é que seu Wender fez? A três, que era dia de festa de seu Jariodama, nesse dia ele abriu a tribuna. 24, de acordo com a data, levanta o mastro, na véspera ou após o toque de São Bartolomeu. No dia de São Luís, o mastro já está em pé, em sua homenagem, né? 30 é a festa (ou no último domingo de agosto, de acordo com o calendário). 31, como tem um toque pra Seu Légua, ao meio-dia, aproveita e arruma o mastro. Então, é um gasto só. Aí, ele associou as datas, combinando o movimento tanto religioso do Tambor de Mina, como a devoção do Divino Espírito Santo e seus devotos que acabam sendo devotos do Divino e também devoto daquelas entidades. JL: Então, o mês de agosto é o mês de mais trabalho aqui… SC: É o alto aqui da casa. Porque tem as obrigações internas do Tambor de Mina, tem as obrigações externas do Tambor de Mina, e tem a devoção do Divino Espírito Santo. Então, acaba sendo um período ardoso. De trabalho, de fé, de devoção, de sincretismo… JL: Agora, gostava que o senhor me falasse de alguns aspetos da festa. Por exemplo, as cores da festa. Quem é que decide: é seu Wender ou seu Cravinho? SC: Na verdade, isso é jogado de acordo com as entidades chefe da casa. A casa é regida por Xangô, uma entidade africana e Iansã. De acordo com essas entidades, seu Wender, como sacerdote, ele vai ver qual é o ano seguinte que vem influenciar a cor da festa, para não ter repetição. Mas, não é como se fosse obrigação, é uma coisa mais associada no sincretismo dele, certo? O primeiro ano que se abriu a festa, foi tudo branco. O segundo ano, vermelho e branco, que é uma cor tradicional da própria entidade, Xangô. O terceiro ano, azul e branco. O mastro ele é pintado vermelho, num ano, azul e branco, no outro ano, pra entidade masculina e o outro ano, pra entidade feminina. Foi depois disso, que ele botou amarelo, um dia botou rosa, aí, esse ano já vai ser o verde, ano que vem vai ser amarelo dourado. Quando chegar nas sete cores, repete a cor do primeiro ano e assim sucessivamente. |
«É uma festa que ela é de longo prazo e acaba se esticando no terreiro, é uma festa de uma grande proporção. Tem Divino Espírito Santo, mas tem o toque de Jariodama, que aproveita o ensejo, tem a abertura do Tambor de Mina de Dan, tem São Bartolomeu, tem Dom Luís, Rei de França, que tem o toque do gentil, após o Divino Espírito Santo, tem o toque pra Rainhas e Princesas e 31 tem a festa de Seu Légua.»
JL: Aqui na casa tem uma participação grande das entidades na festa, né. Por exemplo, é Dom Luís que recepciona a coroa. Mas poderia ser seu Wender? Ou não?
SC: Também pode, como devoto… JL: Mas, fica melhor se for D. Luís? SC: Não é que fique melhor. Acabou sendo uma questão da própria entidade, vindo todo o ano, nessa data, receber. Mas, se um dia ele não vier, seu Wender vai estar de prontidão, como devoto do Divino também, não gera é o mesmo efeito. JL: Na Casa de Pai Jorge, quando a coroa chega da Igreja, ela é também recebida por dois filhos de santo incorporando um vodum, né? Mas tem um toque de Mina rápido. Na ocasião que recebem a coroa estão dois abatás junto à tribuna e tem um pequeno toque. Aqui não tem essa parte? SC: Não, aqui não foi adaptado isso. Porque, como eu lhe disse, a festa é pro Divino Espírito Santo e São Luís, Rei de França, rei mágico, o santo, não a entidade. E lá, não. Lá, a entidade ela já tem uma abertura com a festa, direcionada a ela também. JL: Aqui os toques que se realizam por ocasião da festa são em frente à coroa, que fica por mais sete dias após a festa. Isso é porque as entidades querem ver a festa? Porque querem ver a tribuna? Porque é que esses toques são em frente à coroa? SC: Apenas pela questão do sincretismo e até a fé de cada entidade. Porque o Divino Espírito Santo, dentro do contexto do sincretismo, ele vem a ser associado a Ifá, uma divindade elevada. Então, o próprio pombo ele tem essa referência de Ifá, de Oxalá, de Oxaguian, que as pessoas associam com um Deus, como Jesus Cristo, e acabam tendo essa devoção da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Então, tem esse lado. Eu não sei na casa de A, de B e C, aqui no terreiro, essa santa coroa, depois que fecha a tribuna, no outro dia tem um toque, [em] que algumas entidades da realeza – tanto da encantaria e, às vezes, assim os próprios orixás ou voduns – vêm olhar as criança vestida. E, após isso, [no último toque] a santa coroa é tirada do altar, tem um cântico em referência a tirar esta santa coroa, que vai ficar ao pé de Oxalá, dentro do Peji, até no ano seguinte, na reabertura da festa. A gente tem de ter um cuidado de retirar ela nesse cântico, ela é passada de mão em mão, como se fosse uma referência, né, a essas entidades Funfun, Oxalá, Obatala, Ifá. Então, com certeza, dentro do lado africano, a santa coroa do Divino Espírito Santo, deve ter algum sincretismo muito forte, pra ela estar dentro desse quarto. JL: Se pode dizer que as entidades vêm ver a festa, durante os toques? Vêm apreciar o vestuário, a roupa dos Impérios…? SC: A roupa, o movimento, né, essa questão toda. JL: Os caboclos vêm também durante o mastro… SC: Pra brincar, pra farrear… JL: E as outras entidades vêm durante os toques, é isso? SC: Os toques, é. Mas [como] não podem estar na rua, elas vêm durante os toques. JL: Lá na casa do Pai Jorge, também tem essa passagem de cura que tem aqui pela festa? SC: Não. Isso aqui é só daqui, por causa de mim. Como todo ano, eu recebo durante o levantamento do mastro, outras pessoas de outras casas, com várias entidades caboclas, Surrupira, família de Légua, família de Bandeira, família de Turquia, nessa passagem de cura eu venho, abro todas as linhagens dessas família, pra não dar choque de correntes, e deixo a festa aberta pra todos esses tipo de entidades, seja da casa que for. Mas isso aqui é uma questão minha. Eu sou uma entidade curandeira. Da pajelança, o meu forte é pajelança. E a minha pajelança ela não é envolvente diretamente ao Divino, não tem nada a ver. [Tem a ver] com as outras entidades que vêm nesse dia brincar na porta, acompanhar o mastro, pra não dar desequilíbrio, choque de corrente, pras pessoas não passarem mal, pras outras pessoas incorporarem, sem ter nada, está entendendo? É como se eu estivesse fazendo uma firmeza no ambiente da casa, pra receber as demais entidades que vêm em cima de outros pais de santo, de outros filhos de santo, de outros irmãos de santo, pra não ter um atrapalho. (risos) O senhor esteve presente no levantamento? Tinha muito caboclo de outras casa, entendeu? [Mas] foi tudo muito tranquilo, levantou o mastro bonito, depois ficaram, brincaram e foram embora, tranquilo. (risos) JL: Ano passado, eu estive vendo os dados lá do Centro de Cultural Popular e há noventa festas do Divino aqui em São Luís, e a maioria são de terreiro, e muitas são recentes. Há gente que diz assim “Ah, há muita festa do Divino, por conta do dinheiro que a Cultura dá”. Mas a Cultura não dá assim tanto dinheiro, a cada festa. Então, por que é que há tantas festa do Divino? SC: Alguns fazem por fé, outros porque teve uma promessa que foi na casa de um devoto antigo, disse lá: “Oh meu Divino, se alcançar minha graça, eu faço uma festa pra você, no próximo ano”. E, assim, cada um tem sua maneira de pedir as suas promessas e hoje estar fazendo essa festa. Agora, assim, eu não posso falar por todos… Mas, eu tenho certeza, que não é por esse dinheiro, que esse dinheiro mal dá pra fazer meia hora da festa, né? Eu acho assim. Creio que seja de devoção de cada um mesmo e apegação do Divino Espírito Santo. Ele faz a coisa acontecer, né? Ele é do tipo daquela fé, daquela esperança, né? ele leva até à glória o pedido daquela pessoa. E a pessoa acaba se tornando aquele devoto fervoroso, né? [Aí para não estar] nas casas, sendo padrinho de tribuna, dando criança, dando bolo, ele acaba fazendo uma salva, dessa salva acaba uma festa, dessa festa acaba um festejo e assim sucessivamente. Creio eu que seja assim. Quem fala isso, nunca fez uma festa do Divino. Que, se fizesse ia ver que não tem porquê fazer por fazer. JL: Também há quem diga que nos terreiros tem muita festa do Divino, porque, como como é uma festa católica, é para tirar o lado “macumbeiro”, vamos dizer assim… SC: Não. Acho que não é por esse lado, isso é um preconceito do povo. [Tem que ver] com fé, devoção, algum pedido do Divino ali à mistura. Ou obrigação da casa, alguma entidade que pediu, alguma coisa relacionada a isso. Porque é uma festa ardosa, o devoto ele passa por várias provações durante o período dessa festa. Uma das provações qual é? É recepcionar as pessoas, dar conta das caixeira, dessas crianças. Que hoje muitos devotos não querem dar criança e o dono da festa acaba bancando tanto o imperador como a imperatriz, né? Então, creio eu que ninguém ia fazer uma festa dessa dentro dessas questões que eles levantaram aí fora. Creio eu que seja por devoção e amor do Espírito Santo ou de uma entidade que pediu essa Festa. JL: Seu Cravinho, quanto é que custa uma festa do Divino? SC: Por alto, no primeiro ano eu gastei na faixa de uns R$ 12.000, porque não tinha caixa, não tinha bandeira, não tinha nada disso. Hoje, atualmente, como eu já tenho esses materiais que é próprio da festividade do Divino, do Divino a gente tem um gasto de R$ 9.000 e pouco. Porque às vezes falta algo. Um devoto deu a promessa de dar e não dá, então a gente tem esse orçamento. Como, na casa, você já tem [também] os toques de Tambor de Mina, chega a uns doze a R$ 12.000 a R$ 15.000. Porque, após o levantamento do mastro, no outro dia do Tambor tem um jantar, tem um refrigerante, às vezes, tem alguma bebida. Na pajelança tem um almoço. Tem foguete, tem energia que é gasta, tem a água, então, acaba sendo um orçamento grandioso. Sai caro. Agora, é assim, não pesa pro dono da casa, porque tem devotos, tanto devotos do Divino, como pessoas fervorosa pelas entidades, que têm ali um agradecimento, tem algum benzimento que aquela entidade deu, alguma graça que alcançou, às vezes é o Divino que recebe o presente. Então o que é que seu Wender faz? Ele pega e organiza, e acaba não pesando, né, ele acaba sabendo administrar cada momento. Ele tem uma noção que um Tambor vai ter tantas pessoas, o que ele pode servir. Na festa do Divino, que é o dia todo, tem o café, o lanche, o almoço, a bebida, os bolos e da janta. Então, ele sabe, mais ou menos, hoje, atualmente, administrar essa questão. JL: R$ 12.000 é muito dinheiro! S.C: É. Mas, como vem um porco dali, vem um boi dali, vem três fardos de arroz dali, vem um bode ali pra aquela entidade, vem ali um maço de vela, vem um defumador vem sete caixa de foguete, vem doze, vem treze JL: Muita gente ajuda, né? SC: Muita gente. Se você for botar no lápis pelo valor de cada coisa que entra, chega até a mais do que isso, tá entendendo? Tirando pintura da casa, tirando energia da casa, a água que tem lá que é da casa, que é muita água consumida, pra lavar louça, a mão-de-obra: cozinheiras [por exemplo]. Às vezes, a casa quando tem as pessoas que ajuda, ótimo, se não tem, tem que pagar uma cozinheira, porque tem gente que sabe cozinhar pra pouca pessoas e, na festa do Divino tem pessoas que tem que saber cozinhar pra bastante pessoas, pra comida sair boa, porque é uma festa com um volume de comida grandiosa. Então não dá pra fazer por etapas, tem que contratar aquela pessoa que já sabe, já tem o costume. Acaba saindo caro! Porque a pessoa que diz “eu faço uma festa, não gasto isso” é porque ele nunca parou. Se ele gastar quatro e meio do bolso dele, tirando o que os devoto dão, chega a muito mais do que isso e muito mais! E muito mais! Tirando a jóia de um, a jóia de outro, financeiramente é muito mais! |