Dançantes e Abatazeiros
Entrevista com Sandra
Dançante da Casa
Maio 2014
Sandra (SA): Meu nome é Sandra […], eu nasci em sete de Abril de 1981 em Cururupu. Minha mãe mora em Santa Helena, me criei em Santa Helena, aí depois eu vim pra cá trabalhar em casa de família, aí trabalhei muito tempo em casa de família, quase a minha juventude toda. Aí, depois que eu arranjei um serviço numa padaria, trabalhei de ajudante de confeiteira. Sou casada, mas não tenho nenhum filho.
JL: Como é que caiu no santo? SA: Eu vim em uma festa, véspera da festa do Divino, cozinhar, ajudar a fazer a comida. JL: Foi convidada por alguma dançante daqui? SA: Foi, uma dançante me convidou e eu vim ajudar, né? Aí eu vim e fiquei frequentando. Aí depois, o pai de santo me convidou pra ser servente, aí teve um tambor que eu me atuei, aí depois eu comecei a dançar, que eu tinha que começar a dançar. Está fazendo hoje sete anos que eu danço. JL: Quais são os encantados que recebe? SA: Eu recebo Ave Seca, da família de Légua. Recebo o Índio Guajajara da família de turco, da Turquia. Eu sou de Badé, Oxum e Ogum. Aí também recebo Dom Henrique, da família de Dom Luís e que faz parte da festa [do Divino]. Princesa é que eu ainda não sei. JL: Desses encantados qual é o que vem mais vezes? SA: Índio Guajajara. Vem de vez Ave Seca, mas ultimamente está vindo ele, Índio Guajajara. JL: E ele, como é que é? SA: Ele é tipo índio, ele é filho de índio, né? É farrista. Gosta de beber, de fumar JL: E Dom Henrique, como é que é? SA: Dom Henrique ele é, eu nem sei como dizer, ele é comportado, né? Ele só desce assim na abertura da tribuna, que ele vem, aí ele vem no dia da festa, que é amanhã, aí ele veio no dia do tambor que foi pra Dom Luís. Ele só vem nessas três ocasiões. Dança com uma bengala. JL: Sente preconceito por ser dançante? SA: [Na família] não tem nenhum preconceito, o meu marido aceita, a minha família aceita, não tem nenhum preconceito. No trabalho eu nem falo, que eles não aceitam. [Quando tenho que vir na casa] eu invento que estou doente, aí eu invento qualquer coisa, mas não digo que estou dançando tambor. |
«Uma dançante me convidou e eu vim ajudar, né? Aí eu vim e fiquei frequentando. Aí depois, o pai de santo me convidou pra ser servente, aí teve um tambor que eu me atuei, aí depois eu comecei a dançar, que eu tinha que começar a dançar. Está fazendo hoje sete anos que eu danço.»
JL: E você acha que a sua vida depois que iniciou a vir aqui no terreiro deu uma melhorada?
SA: Melhorou muito, que ultimamente eu não parava em nenhum emprego, eu sofria muito antigamente. Aí depois que eu comecei a dançar melhorou bastante, hoje eu sou outra pessoa. Eu vivia passando mal. Acho que eu vivia era me atuando e as pessoas pensavam que eu estava era passando mal, só que eu não sabia, aí depois que eu me atuei aqui é que eu fiquei sabendo. JL: Alguém na sua família já recebia santo? SA: Meu pai. Ele era tocador. Mas ele tinha encantado. JL: Pode cantar a sua doutrina favorita? SA: Eu sei do meu Índio Guajajara, “eu sou Índio Guajajara, Caboclo (Turco) mal criado, Eu sou Índio Guajajara, Caboclo (Turco) mal criado, sou Índio Guajajara, ele é bom é na Taquara, sou Índio Guajajara, ele é bom é na Taquara, eu sou Índio Guajajara, Caboclo (Turco) mal criado, eu sou Índio Guajajara, Caboclo (Turco) mal criado, é bom é na Taquara” (cantando). Tem também uma de Dom Henrique: “Cavaleiro Gama, Gama lá em Codó, Henrique está na corte, Gama meu senhor” (cantando). Porque Dom Henrique é da família de Dom Luís, mas eu acho que ele tem uma parte da Gama. JL: Aqui na casa, já bancou alguma vez o Império? SA: Já tive algumas festas, eu sempre pego assim a festa do dono da casa. Eu já fiz também um Imperador, ano passado as dançantes estavam fazendo, a gente pegou o Imperador pra gente tomar de conta. JL: Isso foi a entidade que pediu ou foi o dono da casa? SA: Foi os encantados que assumiram a festa. JL: Sai muito caro? SA: Sai um pouco caro. Sempre a gente pega a mesa do dono da casa, aí esse ano a gente arcou com a mesa do dono da casa, eu arquei com as lembranças do dono da casa. JL: Você comprou as lembranças onde? SA: Eu fui no Centro e comprei os materiais. No Festa Center. Eu fui lá, eu bati o olho na lembrança, eu digo, “é essa aqui que eu quero”. Aí eu pedi pra menina, que eu queria todo o material daquela lembrança pra eu montar em casa. São 20 lembranças. Prás caixeiras e prás visitas. Tem também o bolo que foi [pago por] outras dançantes, porque no momento eu estou desempregada e eu não podia arcar com tudo, né? Aí eu me comprometi com as lembranças. JL: Das festas e obrigações da casa, qual é a que gosta mais? SA: É a festa do Divino e a festa do dono da casa, de Xangô, do Pai Xangô. JL: Qual a que traz mais gente? SA: Essa aqui [a festa do Divino] traz bastante gente, o levantamento do mastro também traz bastante gente, a festa do dono da casa também traz. Mas a que traz muita, muita, muita [gente], é essa festa [do Divino] de amanhã, que traz bastante gente. Gente que não frequenta o terreiro vem bastante. JL: Será por ser uma festa católica? SA: É, creio que sim. Vem muita gente assim que a gente nunca viu, desconhecido e também vem muita gente conhecida. De outros terreiros. Muitos caboclos, é muita gente. |